A
ocupação norte-americana do Afeganistão e a produção de ópio
O início da ocupação do território
afegão remonta a 2001, quando a NATO e os EUA agiram com vista a desmantelar a
organização terrorista Al-Qaeda e retirar o governo talibã do poder; esta
ocupação persiste até hoje.
Em
1979, o Afeganistão foi invadido por forças soviéticas: a perda de poder que
daqui brotou levou ao florescimento tanto de barões da droga como das suas
papoilas, utilizadas para o fabrico de ópio.
A
ocupação americana do Afeganistão desencadeou um resultado semelhante: com o
abalo económico que o país sentiu em 2001, não foram apenas as tropas
americanas que dispararam. De facto, a produção de ópio neste país cresceu como
nunca durante a ocupação americana, sendo que 90% da produção mundial de
heroína tem o seu berço em terras afegãs; um relatório da UNODC (United Nations
Office on Drugs and Crime) aponta para um aumento de 36% da área de cultivo de
papoilas de ópio em 2013. O mais interessante? Antes da ocupação americana, em
2000, o governo talibã, em colaboração com a ONU, levou a cabo uma das
campanhas anti-drogas melhor sucedidas de todo o sempre, declarando a produção
de ópio como uma prática não-islâmica – houve uma redução de ¾ na produção
mundial de heroína na altura, com uma diminuição de 99% das culturas de
papoilas de ópio nas áreas controladas pelos talibãs (se bem que este controlo
era exercido de maneiras que suponho serem, no mínimo, pouco-islâmicas).
As
guerras são frequentemente desencadeadas por uma sede de recursos e controlo,
ou, melhor - de controlo de recursos. Como relatado pelo Global Research (organização media canadense de pesquisa
independente) em 2005, «A heroína é um negócio multimilionário sustentado por
interesses poderosos, o que requer um fluxo de mercadoria estável e seguro. Um
dos objetivos “escondidos” da guerra foi precisamente recuperar os níveis
históricos de comércio de droga patrocinado pela CIA e exercer controlo direto
sobre rotas de droga.».
A
meu ver, isto tira uma certa credibilidade à versão original da história atual,
segundo a qual o facto de as tropas americanas estarem a patrulhar e a proteger
um dos maiores cultivos de papoila do ópio no mundo se deve a um “mero” inconveniente,
um mau cálculo de logística (suponho que a descoberta recente por parte das
tropas americanas de depósitos minerais não explorados, no valor de 1 bilião de
dólares, seja uma feliz coincidência). Com o propósito de evitar hostilidade das
populações locais, para as quais o cultivo e produção de ópio constitui grande
porção do rendimento, as tropas americanas patrulham campos de papoilas no
Afeganistão: tudo isto de modo a prevenir rivalidades e confrontos entre o
povo, os talibãs e o governo afegão. Alimentando ambos os lados, a indústria do
ópio e da heroína é essencialmente um produto da guerra e um combustível para o
prolongamento de conflitos.
U.S. Marines com Fox Company, 2nd Battalion, 5th Marine Regiment, Regimental Combat Team 6, patrulham um campo de papoilas durante a Operation Lariat no distrito Lui Tal, Afeganistão, 16 de Abril de 2012
Para
além disto, dois relatórios recentes de agências governamentais dos EUA
(Congressional Research Service e Government Accountabilty Office) afirmam que,
não só o número de empreiteiros privados no Afeganistão está a aumentar
consideravelmente, como o Pentágono não sabe justificar a sua estadia. Apesar
de a presença americana no Afeganistão estar a ser reduzida (com a retirada
planeada para 2014), David Francis do Fiscal
Times argumenta que «O aumento do rácio de empreiteiros para militares é
apenas mais uma indicação de que, apesar de a maioria das tropas ir deixar o
Afeganistão, um exército privado continuará no país durante anos.».
Com
o acordo recente que permite que os EUA deixem forças residuais e algumas bases
militares no Afeganistão (bem) para lá do prazo (de 2014 para 2024), a presença
americana no Afeganistão está longe de terminar.
Não
é curiosa a maneira como, por um lado, os EUA encenam uma luta mundial contra
as drogas, aprisionando milhões de consumidores não violentos, e por outro
estão a alimentar a maior produção mundial da droga mais letal e viciante do
mundo?
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