Há dez anos a Praia
Verde era uma zona de praia pouco urbanizada e, fazendo jus ao seu nome, verde.
Tinha um bar de nome ‘Pézinhos na Areia’ que fazia inveja a qualquer bar de
praia. A tranquilidade reinava no cenário e os espaços verdes eram abundantes.
A não ser na praia, estávamos constantemente rodeados de árvores. O que mudou
desde então? Tudo.
O meu plano era
passar a tarde por esses lados, desisti após quinze minutos na zona da praia
verde. A floresta vai sendo abatida a bel prazer para construir apartamentos e
vivendas. Foi aberto o Infante, um edifício semelhante a um polidesportivo cuja
visão assusta. Na esplanada do Infante reina a bandalheira. A meio de Outubro,
num sábado solarengo, o parque de estacionamento está cheio, e dificilmente se
encontra uma letra que não o ‘E’ nas matrículas dos carros. Não digo isto como
uma afirmação nacionalista, mas como um apelo ao que é razoável.
O turismo deve tentar
criar circunstâncias em que quem visita convive com quem habita, até porque só
assim um viajante pode apreender o que seja. Deve também respeitar a realidade
que o rodeia. A Praia Verde é o negativo de tudo isso e é demonstrativo do
trabalho que vai sendo feito na costa portuguesa – em primeiro lugar na lista
de prioridades vem a construção, que para ser levada a cabo exige a destruição
do meio envolvente; em segundo lugar, restauração de luxo que privilegie o
lucro acima de tudo o resto. Não interessa a estética nem a qualidade, apenas o
preço e a quantidade. Por serem destinos de excelência para o ‘novo-rico’, as
populações locais estão automaticamente excluídas por não terem como pagar os
preços exigidos. As pequenas joias costeiras vão, uma a uma, sendo arrancadas
às suas populações para que uma elite estrangeira possa usufruir destes espaços
que deveriam ser de todos.
Gosto de restauração
e de turismo, e acho que deve ser uma fonte de rendimentos num país que reúne
tantas condições para tal como Portugal, mas desgosto do investimento pouco
cauteloso e desenfreado que é feito por estes lados. O turismo e a restauração
devem ser moderados e devem ter a capacidade de se integrar no espaço. Devem
ter um espectro de ofertas mais variado e privilegiar a estética, tão
importante em zonas costeiras. O bom gosto não é caro, e não deve custar caro.
Estamos a construir uma costa de oásis onde o turista deve estar ‘protegido’ do
residente, e onde as receitas do turismo são monopolizadas pelo investidor,
porque os oásis reúnem tudo, de farmácias a supermercados, de restaurantes a
habitação. Ninguém vai à cidade mais próxima fazer compras. Um bocadinho ao
estilo do Club Med em Marrocos – fica-se hospedado num condomínio fechado
durante uma semana, regressa-se sem ter saído dos protegidos muros do clube e
até podemos afirmar que já estivemos em Marrocos e que gostámos muito das
piscinas e dos gelados de framboesa que lá comemos.
Enquanto a integração
não fizer parte do vocabulário do investidor, o investimento está mal feito.
Até o ‘pezinhos na
areia’ foi re-decorado, agora é um bloco maciço de madeira com um alpendre, e
seguramente já não faz inveja a bar algum...
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