sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Influências


              Direta ou indiretamente, todos sofremos o peso de inúmeras influências, dos mais variados vetores – direções, comprimentos e sentidos tão igualmente diversos como o que te rodeia a ti, e a mim.
 
              As nossas personalidades, o nosso centro, são indubitavelmente permeáveis aos ambientes em que nos inserimos (ou em que somos inseridos) - este é dos factos mais definitivos que conheço. Até que ponto somos feitos daquilo – e daqueles – que nos rodeia? Quão diferentes seríamos realmente se todos fôssemos sujeitos a uma so esfera de influências, una?
 
              A família é dos fatores que mais pesam na formação do nosso carácter: reações instintivas, que a cada um podem parecer próprias de todos, que nos acompanham desde as fases onde o ritmo de aprendizagem é maior. Se bem que, para os sortudos como eu, grande parte dos valores básicos para uma convivência equilibrada com os outros habitantes do planeta Terra é transmitida na infância, é igualmente verdade que é nesta fase que problemas de carácter se começam a desenvolver. É difícil alterar características desta esfera: são ideias e comportamentos com os quais sempre vivemos, e que por vezes nos são difíceis de encarar como menos que científicos. Racismos, xenofobias, sexismos e preconceitos em geral têm frequentemente origem aqui. A linha que separa o que nos foi ensinado e o que adquirimos por nós mesmos é muitas vezes ténue.
 
              Cabe a cada um ter a maturidade (e a vontade) de se autoavaliar e, se necessário, contrariar a tão famosa frase: “as pessoas não mudam”. Claro que mudam; não quer dizer que a mudança seja fácil, confortável ou sequer desejável. Muitos (incluo-me) são os que, nalgum (ou em todos) ponto da sua vida, se agarr(ar)am a convicções injustificáveis por eles mesmos com unhas e dentes, tentando com toda a força aceitar que cada um vive na sua esfera, na sua própria versão da realidade.
 
              No entanto, não há dúvida de que a mudança é uma constante na raça humana – sem ela, não haveria evolução. Se quisermos que o mundo mude para melhor, devemos primeiro fazê-lo com nós mesmos, compreendendo a importância de, com regularidade, fazer um check-up ao carácter e respetivos ajustes.
 
Falar é muito bonito: já praticar...

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Pézinhos na Areia

 Há dez anos a Praia Verde era uma zona de praia pouco urbanizada e, fazendo jus ao seu nome, verde. Tinha um bar de nome ‘Pézinhos na Areia’ que fazia inveja a qualquer bar de praia. A tranquilidade reinava no cenário e os espaços verdes eram abundantes. A não ser na praia, estávamos constantemente rodeados de árvores. O que mudou desde então? Tudo.
 O meu plano era passar a tarde por esses lados, desisti após quinze minutos na zona da praia verde. A floresta vai sendo abatida a bel prazer para construir apartamentos e vivendas. Foi aberto o Infante, um edifício semelhante a um polidesportivo cuja visão assusta. Na esplanada do Infante reina a bandalheira. A meio de Outubro, num sábado solarengo, o parque de estacionamento está cheio, e dificilmente se encontra uma letra que não o ‘E’ nas matrículas dos carros. Não digo isto como uma afirmação nacionalista, mas como um apelo ao que é razoável.
 O turismo deve tentar criar circunstâncias em que quem visita convive com quem habita, até porque só assim um viajante pode apreender o que seja. Deve também respeitar a realidade que o rodeia. A Praia Verde é o negativo de tudo isso e é demonstrativo do trabalho que vai sendo feito na costa portuguesa – em primeiro lugar na lista de prioridades vem a construção, que para ser levada a cabo exige a destruição do meio envolvente; em segundo lugar, restauração de luxo que privilegie o lucro acima de tudo o resto. Não interessa a estética nem a qualidade, apenas o preço e a quantidade. Por serem destinos de excelência para o ‘novo-rico’, as populações locais estão automaticamente excluídas por não terem como pagar os preços exigidos. As pequenas joias costeiras vão, uma a uma, sendo arrancadas às suas populações para que uma elite estrangeira possa usufruir destes espaços que deveriam ser de todos.
 Gosto de restauração e de turismo, e acho que deve ser uma fonte de rendimentos num país que reúne tantas condições para tal como Portugal, mas desgosto do investimento pouco cauteloso e desenfreado que é feito por estes lados. O turismo e a restauração devem ser moderados e devem ter a capacidade de se integrar no espaço. Devem ter um espectro de ofertas mais variado e privilegiar a estética, tão importante em zonas costeiras. O bom gosto não é caro, e não deve custar caro. Estamos a construir uma costa de oásis onde o turista deve estar ‘protegido’ do residente, e onde as receitas do turismo são monopolizadas pelo investidor, porque os oásis reúnem tudo, de farmácias a supermercados, de restaurantes a habitação. Ninguém vai à cidade mais próxima fazer compras. Um bocadinho ao estilo do Club Med em Marrocos – fica-se hospedado num condomínio fechado durante uma semana, regressa-se sem ter saído dos protegidos muros do clube e até podemos afirmar que já estivemos em Marrocos e que gostámos muito das piscinas e dos gelados de framboesa que lá comemos.
 Enquanto a integração não fizer parte do vocabulário do investidor, o investimento está mal feito.

 Até o ‘pezinhos na areia’ foi re-decorado, agora é um bloco maciço de madeira com um alpendre, e seguramente já não faz inveja a bar algum...

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O Tribunal Constitucional português é "activista".

 Afirma-o um alto cargo do eurogrupo. Os principios fundamentais da união europeia dizem o seguinte: "A União baseia-se nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, da igualdade, do Estado de Direito e do respeito pelos direitos humanos, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias.".
 Este tipo de jogo político é do mais baixo que se encontra numa União Europeia em declínio, não só económico como ético.
 Na sua crónica no Expresso Daniel Oliveira relembra um aspecto importante:
“A Alemanha tem um respeito reverencial pelas decisões do seu Tribunal Constitucional, o que já obrigou a Europa a fazer, contrariada, alguns ajustes nas suas decisões. Faz muitíssimo bem. A Constituição é a lei fundamental de um País. Quem não a respeita, não respeita o Estado de Direito. É, em vários países, o Tribunal Constitucional que zela pelo cumprimento dessa lei fundamental. Assim como cabe aos cidadãos respeitar as decisões dos tribunais (mesmo que não concorde com elas), cabe aos governos respeitar as decisões do Tribunal Constitucional.”
 Contudo, o que é verdadeiro para uns não o é para outros. Da mesma forma que a austeridade só vai a casas latinas, também o Estado de Direito se vai tornando uma realidade exclusiva dos bons alunos. O Estado Social vai lentamente sendo suprimido pelas necessidades financeiras e pelo regresso aos mercados, mas não pode chegar o dia em que o Mercado substitui a Democracia, porque esse dia é o regresso ao fascismo, que está em escalada ininterrupta nos países sulistas, principalmente sob o estandarte da Aurora Dourada na Grécia. Entre 1933 e 1939 a Alemanha foi o único país europeu a conseguir combater eficazmente o desemprego, numa época em que o desemprego na Europa dificilmente andava abaixo dos 20% em qualquer país a que se fosse. Foi uma das proezas que deu autoridade a Hitler não só interna como, infelizmente durante mais tempo do que deveria, externa.
 Os bons resultados alemães à custa das suas colónias europeias vão-lhes conferindo autoridade e legitimidade na Europa sobre o que os rodeia nos dias que correm, será assim tão diferente?

 A Europa foi construída com o intuito de prevenir outra hegemonia como a que foi vivenciada nos anos 40. Esperemos que esse intuito não seja esquecido, porque se o for teremos uma inversão absoluta dos ‘valores europeus’.