Não obstante, Passos Coelho anuncia mais cortes na despesa pública nesta primeira sexta-feira de Maio. Ingénuo seria esperar algo diferente de um governo com um sentido de dever para com os seus "parceiros europeus" tão apurado.
É curioso que, mesmo quando já ninguém vê na austeridade uma saída (nem mesmo os teóricos que a sustentaram equivocamente): 1º o governo português continue a insistir na mesma tecla notoriamente estragada; 2º - que os nossos "parceiros europeus" continuem a sugerir que a tecla não está estragada, e mesmo que esteja, devemos continuar a premir.
Há apenas um problema: a tecla está de facto estragada.
Para além da destruição social que os cortes estão e vão causar, há uma variante económica de grande relevância que é afectada directamente por cortes na despesa pública - o Consumo. Diminuição da despesa pública traduz-se, salvo excepções, numa diminuição do consumo, o pior dos males para um país como Portugal nas circunstâncias em que nos encontramos. Citando Krugman:
"Parte da resposta encontra-se certamente na vontade generalizada de encarar a economia como um jogo de moralidade, que a converte numa narrativa sobre os excessos e suas consequências. Andámos a viver acima das nossas possibilidades e agora estamos a pagar o preço inevitável. Os economistas bem podem explicar, até à exaustão, que isso não é verdade. Que a razão pelo qual temos um desemprego de massas não se encontra em termos gasto excessivamente no passado, mas antes na circunstância de estarmos a gastar muito pouco agora, e que este é que é o problema que tem que ser resolvido" *
Note-se que o consumo nacional não se muda do dia para a noite e que quanto mais tempo jogarmos este jogo da austeridade, mais longo será o período de recuperação. Para a Europa Central e respectivas mega-instituições ainda há uns pozinhos de ouro no sul, e até se esgotarem por completo as suas economias tudo está bem. O problema da falta de liquidez provocado pela bolha especulativa da primeira década deste século vai sendo lentamente resolvido através das dividas do mediterrâneo Norte.
O mais interessante vem de seguida, quando os mal-comportados já não tiverem tutano. Infelizmente para a Alemanha e respectivos parceiros há muitos 'irreverentes', que se vão tornando pouco práticos de dispensar e chatos de resgatar...
*O artigo citado encontra-se traduzido aqui.